quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

ABAIXO O BICO DE PATO!


“Para que se esconder atrás de uma expressão nula, como se os anos não nos tivessem ensinado absolutamente nada?”.

Há quatro anos, a revista Veja estampou, lado a lado, fotos da atriz Christiane Torloni e da mãe dela, Monah Delacy, ambas aos 51 anos. Os registros, separados por quase três décadas, mostram como a ciência tem conseguido, de maneira inequívoca, retardar o envelhecimento. Na foto, o frescor de Christiane contrasta com a severidade do ar da mãe, quando tinha a mesma idade da filha.

É fato que hoje podemos nos gabar de estar mais jovens por mais tempo. Nossas mães faziam o tipo “matrona” e já se era velha aos 40. Felizmente, essa imagem ficou congelada no passado. Dito isso, é preciso reconhecer que estamos exagerando – e muito – no esforço de parecer mais novas.

Eu já passei dos 50 e, ao me olhar no espelho todos os dias, sinto
que já não sou como nos velhos tempos. Mas confesso que não retrocederia um único dia na minha biografia. Em alguns aspectos, estou bem melhor: mais confiante, mais sábia e até mais curvilínea. É, aqueles quilinhos a mais foram parar nos lugares certos. Menos mal. E não posso mais enfiar o pé na jaca. Continuo “boca santa”, como se diz lá em Minas, mas ficaram para trás os tempos em que me fartava de comida e bebida. O velho estômago tem me condenado a uma vida mais monástica.

O que mais me preocupa, no entanto, é olhar ao redor e ver mulheres com bico de pato, de tanto preenchimento nos lábios, olhar estatelado e expressão ausente, como se tivessem recebido um carimbo de “nada consta” na cara. Isso fica ainda mais evidente quando se vai a bairros nobres, onde elas circulam com suas roupas de grife e ar meio súplice, como a pedir desculpas pela inexpressividade. Cenas da vida real que lembram a da madrasta do filme “A Nova Cinderela”, de 2004, em que a atriz Jennifer Coolidge parece um pesadelo embebido em botox.

É claro que me preocupo em não ficar caída; me cuido, tenho uma vida saudável, mas me recuso a me esconder atrás de uma expressão nula, como se os anos não me tivessem ensinado absolutamente nada.

Por que não podemos aceitar o envelhecimento sem culpa, como o fazem os homens? Às vezes não dá inveja da sem-cerimônia com que eles andam por aí balançando barrigas de cerveja? Não precisamos exagerar, claro. Mas podemos, sim, ser mais benevolentes conosco. Não precisamos parecer o que não somos mais. E, cá pra nós, temos que conservar músculos faciais fortes e expressivos. Nem que seja para rir por último!

* Por Beatriz Alessi: jornalista e cidadã do mundo, como a maioria dos mineiros. Contadora de histórias, acha que a vida de toda mulher daria um grande filme - ou pelo menos uma modesta crônica. Tempo de mulher.